terça-feira, junho 16, 2009

No teu corpo

Sou cartapácio de poemas por escrever
Nós artríticos e preguiçosos dos meus dedos
Sou segredos inconfessáveis de eunuco
O nada todo que preenche a vida
Sou electrizante confusão no vácuo
Massa que as leis já não dominam
Bosão artefacto que ensinam os doutores
E vivo ardendo sem oxigénio
Sem oficio, sem negócio, sem génio.

E provavelmente estou morto e não sei!

Sou as contas por fazer e a rotina
Palhaço jornaleiro que se vende
À hora que o minuto é diminuto
E não se dividem os cêntimos no meu valor.

Bebo nas fendas das rochas o mel supremo
Há néctar nas flores do meu desejo
Tenho lábios tenho dedos tenho sexo
Sobrelevo-me a mim
Divino verso de palavras sem nexo
Que te abrem como um beijo.

E se vivo todos os dias morto,
Vivo quando morro no teu corpo.