sábado, setembro 25, 2010

Caverna de fogo



Uma caverna aberta

lava de fogo corrida

onde o prazer é vida

onde o desejo mais perfeito

cresce e é satisfeito

um pedaço do teu corpo

em forma de coração

onde me encaixo em segredo

onde penetro sem medo

onde te agarro na mão

assim te descobrindo

nessa fenda que vai abrindo

que me aceita em ti

num momento infinito

mordes o labio num grito

o calor em fogo acende

meu corpo todo se agita

numa dança infinita

que ao doce prazer se rende!

sexta-feira, setembro 24, 2010

Sabes o vento?




Sabes o vento que te levanta a saia?
Sabes o tempo que espera que a tua alça caia?
Sabes o olhar que no teu se espraia?
Sabes a boca que sem te tocar um beijo ensaia?

São miragens que o tempo tatua na minha vontade,
momentos que me renovam o desejo.
São a tentação sem nome de tudo o que de ti ensejo!

Esses lábios abertos, num segredo revelado,
esse teu corpo nu em brancos lençóis deitado,
essas mãos deliciosas que meu rosto acariciam...
Seduzem, alimentam, saciam!

O vento na janela




Na janela bateu o vento
e tanto quanto percebi
a cadência da batida
como uma doce melodia
fazia-me lembrar de ti.
Entre silvos e colcheias
de uma estranha balada
de disforme harmonia
compreendi o teu nome
que num sopro uniforme
ao ouvido me dizia.
o mesmo que eu sabia
haver em tempos articulado
ao mesmo tempo que o meu
nome que alguém me deu
por ti era murmurado.
Entre os lábios abertos
e línguas entrelaçadas
silabas soltas
mãos revoltas
frementes
corpos incandescentes
sons desconexos,
aromas, segredos , sexos
e num esgar de prazer,
sinto o mundo tremer,
e um rio é transbordado!

Escrevo em ti um livro


Um dia escrevo
em ti um livro...
talvez te deite de bruços
te levante a blusa
e escreva a primeira quadra
muito a preceito
a tinta de cor preta
sobre o teu rim direito

depois faço um soneto,
por tua coluna acima,
falo do teu jeito de mulher
e do teu sabor a menina
se te soltar a blusa
só por meu bom gozo
faço uma rima malandra
que ponho no teu pescoço ,

Faço por tuas costas,
Uma ode de encantar,
E por falta de mais espaço,
Peço-te para virar,
Vou escrevendo a medo,
Quase temendo o perigo,
Uns versos soltos em segredo
Em redor do teu umbigo.

E uma frase bonita,
Daquelas que dão bom mote,
Atrevido a escrevia
no vale do teu decote,
E com o livro meio escrito,
outro meio por escrever.
Olho para ti e fico
à espera do que fazer!

quarta-feira, setembro 22, 2010

Se um dia te fizesse um poema

Se um dia te fizesse um poema
Se o fizesse a ti,
devia saber a chá de menta,
a sol algarvio,
a tarte de amêndoa.

Devia saber a mulher,
esse gosto secreto
esse aroma discreto
que do mais fundo de ti
inebria o ar.

Teria de contigo me deitar na palha,
misturá-la no teu corpo,
nos teus calções curtos
diluir-me na tua pele.
E no beijo que nunca provei
ser pastor feito rei
aprender nos teus olhos
as ondas, as distâncias, os negros
as palavras amigas,
as palavras não proferidas,
nos lábios que beijam segredos.

E depois do poema feito,
passar-to discretamente
para a mão aberta,
ao teu lado pendente.
Depois encaracolar-te os dedos
e sem que ninguém notasse
deixar o meu cheiro em ti.

E num beijo em que te vejo,
meus olhos nos teus perdidos,
deixar que dois corações
num mesmo peito
dancem unidos!

Deitada na Palha





Um dia, sem te dizer
escrevo-te um poema
só pelo gosto de o fazer.

Escolho uma foto tua,
Deitada na palha,
ou andando na rua.

Ponho-lhe a inocência
desse coração teu,
e o cheiro a desejo,
que marca tudo o que é meu!

domingo, setembro 19, 2010

Lúbrica - Camilo Pessanha




Lúbrica


Quando a vejo, de tarde, na alameda,
Arrastando com ar de antiga fada,
Pela rama da murta despontada,
A saia transparente de alva seda,
E medito no gozo que promete
A sua boca fresca, pequenina,
E o seio mergulhado em renda fina,
Sob a curva ligeira do corpete;
Pela mente me passa em nuvem densa
Um tropel infinito de desejos:
Quero, às vezes, sorvê-la, em grandes beijos,
Da luxúria febril na chama intensa...
Desejo, num transporte de gigante,
Estreitá-la de rijo entre meus braços,
Até quase esmagar nesses abraços
A sua carne branca e palpitante;
Como, da Ásia nos bosques tropicais
Apertam, em espiral auriluzente,
Os músculos hercúleos da serpente,
Aos troncos das palmeiras colossais.
Mas, depois, quando o peso do cansaço
A sepulta na morna letargia,
Dormitando, repousa, todo o dia,
À sombra da palmeira, o corpo lasso.

Assim, quisera eu, exausto, quando,
No delírio da gula todo absorto,
Me prostrasse, embriagado, semimorto,
O vapor do prazer em sono brando;
Entrever, sobre fundo esvaecido,
Dos fantasmas da febre o incerto mar,
Mas sempre sob o azul do seu olhar,
Aspirando o frescor do seu vestido,
Como os ébrios chineses, delirantes,
Respiram, a dormir, o fumo quieto,
Que o seu longo cachimbo predilecto
No ambiente espalhava pouco antes...
Se me lembra, porém, que essa doçura,
Efeito da inocência em que anda envolta,
Me foge, como um sonho, ou nuvem solta,
Ao ferir-lhe um só beijo a face pura;
Que há de dissipar-se no momento
Em que eu tentar correr para abraçá-la,
Miragem inconstante, que resvala
No horizonte do louco pensamento;
Quero admirá-la, então, tranquilamente,
Em feliz apatia, de olhos fitos,
Como admiro o matiz dos passaritos,
Temendo que o ruído os afugente;
Para assim conservar-lhe a graça imensa,
E ver outros mordidos por desejos
De sorver sua carne, em grandes beijos,

Da luxúria febril na chama intensa...
Mas não posso contar: nada há que exceda
A nuvem de desejos que me esmaga,
Quando a vejo, da tarde à sombra vaga,
Passeando sozinha na alameda...


Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

terça-feira, setembro 07, 2010

Sentir


Foto de Oliver Zahm, aqui.

Sabes as palavras?
Se fechas os olhos e as deixas fluir em ti,
despertam-te os sentidos,
estou a mentir,
adormecem-te os sentidos,
despertam-te o sentir.

Sabes as palavras,
as nossas palavras, não têm um sabor
fixo, nem real nem inventado,
são palavras selvagens
que perturbam o silêncio rasgado
dentro do coração.

Sabes as palavras,
são os meus olhos, que sem ver te conhecem,
são sons por produzir que em silêncio se desvanecem,
as nossas palavras têm sonhos agarrados,
tem pedaços de tinta com que pintamos os nossos quadros
que penduramos nas paredes e ninguém vê!

As nossas palavras são dedos,
suaves compridos, ágeis, com que despimos
a roupa que trazemos vestida
E mostramos um ao outro
os nossos doces segredos.

Como crianças brincamos ao sol doirado,
e em jogo adultos em quartos fechados,
em que o aroma roxo das flores da Malva,
se afoga na saliva.
Encostamos as mãos pelas palma,
e dançamos ao som da nossa música,
que compomos em cada compasso,
e finda a sinfonia,
pausa , silêncio e magia,
Entra o mar em acalmia e adormeço eu
no teu abraço.