sexta-feira, janeiro 25, 2008

Feitiço do tempo


Luis Royo

Sou eu, o teu velho amante
de quem já pouco recordas.
Apareço nos teus sonhos
E me esfumo quando acordas.

O tempo levou-me tudo
Só as memórias ficaram
dos nossos dois corpos nus
que num só se misturaram

Não sei qual o teu feitiço
que para sempre me encantou
contra a minha vontade

Serei sempre submisso
ao momento que ficou
marcado pela verdade

domingo, janeiro 20, 2008

Quero-te

quero-te nua e vestida
quero-te de mão dada
quero-te menina a brincar comigo
quero-te mulher deitada comigo
quero um beijo, um carinho
quero dormir lentamente e acordar de mansinho
quero conhecer os cheiros da tua casa, a luz que te ilumina
quero beijar a mulher, e amar a menina
quero a alma que me guia
quero a luz que me cega
quero amar-te livre de qualquer tola regra
quero-te de sangue quente
quero-te morder
quero-te toda para mim, enquanto viver

sábado, janeiro 12, 2008

Do outro lado do espelho



Segui-a devagar,
para lá do espelho
onde a correr esbaforido
tinha entrado o coelho.
E fomos juntos
ao chapeleiro louco
beber chá em xicaras
dançantes
E, embriagados
de emoção,
num abraço apertado
rodopiámos numa dança
rodando por todo o lado
E no fim da cerimónia
caídos de exaustão
dormimos muito abraçados
roupas espalhadas pelo chão
Do outro lado do espelho
a terra da fantasia
dormia a sono solto
nesta nova harmonia.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Fio de sangue

Eu vi o meu corpo
na tua areia morto
eu vi os caranguejos
e os peixes
comerem-me os olhos
e depois de devorado
ficou um fio de sangue
no areal molhado

terça-feira, janeiro 08, 2008

Não lhe contes

Nunca lhe contes nada
por mais que queiras,
nem a ele nem a ninguém.

Toda a gente tem medos
toda a gente tem segredos
infeliz de quem não tem.

Nunca lhe digas: acabei
não murmures o meu nome
não grites ao chegar ao fim.

Solta a língua num beijo
enterra-o no teu desejo
como me enterraste a mim.

Depois de tudo sereno
passa-lhe a mão no cabelo
no nosso secreto afago.

Não lhe mostres os olhos teus
porque quem olha nos meus
vê a tristeza que trago.